Considerações Errantes
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domingo, dezembro 18, 2005

O som da morte

Até à alguns dias atrás nunca tinha presenciado o ultimo suspiro de um animal de tamanhos consideráveis, sim ocasionalmente esmago uma formiga ou outra, quem sabe uma mosca, ou uma melga nas noites quentes de verão. Ora obviamente se em vida estes animais já são por natureza silenciosos (com excepção zum zum irritante dos que voam) não podemos pois esperar que se finem com estrondo. Tirando os representantes do mundo dos insectos, o meu curriculum como voyer de mortes inclui unicamente peixes de vários tipos ou não fosse eu um ávido pescador de rio. No entanto carpas, barbos, bogas, percas e achigãs não são animais particularmente barulhentos (excepto quando teimam em não querer sair da agua) e por isso também não seria de esperar grande alarido na altura de partirem para o grande lago azul que existe no céu. De maneira que, até à alguns dias atrás eu não sabia que morrer fazia barulho.
Uma destas manhas, estava eu a bater o dente na paragem quando a revelação do barulho da morte me foi trazida, assim como a estúpida facilidade com que se morre. Se há animais de que alguém não espera que venham revelações são os que pertencem á espécie dos "ratos alados" os pombos...
A verdade seja dita, não são dos animais mais inteligentes que há mas a maneira como aquele pombo morreu foi para mim uma dádiva, fui iluminado pelo conhecimento. Os pombos andavam na sua triste vida, a debicar algumas migalhas de pão que se encontravam no meio da estrada, a poucos metros de mim, e de meio em meio minuto arriscavam a vida com desprezo evidente por aqueles seres grandes e com rodas a que os humanos chamam carros. Quase se podia ouvir os pombos a pensar ?ainda consigo apanhar esta migalha antes de me desviar da coisa grande?. Cada bicada era uma provocação á Morte, era mais uma ronda naquele jogo de roleta russa em que a bala era um carro. A Morte essa não se deve ter irritado muito, ela sabe que ganha, talvez se tenha rido dos insolentes pombos ou talvez tenha seguido em frente com foice a seu lado com a certeza de que Áquele pombo as migalhas não fariam falta, ele não voltaria a sentir fome.
Ironicamente foi o carro mais lento que acabou o jogo. O pombo olhou-o de frente e decidiu-se por uma última migalha. Comeu-a, ergueu a cabeça e acabou. Morreu de cabeça erguida, olhando de frente um inimigo que não podia vencer. O barulho esse foi indescritível. Se eram os portões do reino dos mortos a abrir ou se eram só os ossos do pombo a serem feitos em mil pedaços não sei, mas foi um som fascinante?

lestat01 at domingo, dezembro 18, 2005






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Considerações Errantes 2005